sábado, 2 de abril de 2011

Mario Quintana talvez


neste quarto,  sua última morada, nos faz imaginar um personagem solitário e disperso, perdido entre seus versos. Quantos poemas Mario não construiu aqui. Talvez ele volte, de vez em quando,a visitar sua última morada terrena. E quando aqui chega deve dizer aos retratos da parede:
"Tú não imaginas como é bom, como é repousante,
Não ter bagagem nenhuma."
E olhando sua velhas coisas, alí tão conservadas...intáctas, deve dizer baixinho:

"Nem sei mais se me matei,
Se morri por distraido,
Se me atiraram do caís"
[]"Eu sigo todo florido
Cadáver desconhecido,
Vogando, lento à deriva,
Nos rios todos do mundo."

E assim vai o poeta dedilhando seus objetos, sua velha cama
e certamente recordará aquele poema, composto na dificuldade da velhice, na lentidão dos movimentos trêmulos e doloridos:

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...


que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.


Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousando em mim.


A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...






http://quintanaeterno.blogspot.com/


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